Uma
das primeiras obras que efetuei na minha chácara foi uma capoeira. Essa
capoeira que tem cerca de 100
m2 de área, foi construída de modo a ser segura para
evitar a entrada de animais predadores, como a raposa ou o gato toirão e ainda aves
de rapina. Esses cuidados impunham-se, uma vez que a capoeira foi instalada em pleno
terreno agrícola, afastada de habitações e, por isso mesmo, deduzi que seria um
alvo mais atrativo para esses animais. A capoeira tem uma área coberta e
fechada destinada a abrigo das aves e a restante está vedada com rede de arame
entrançado e por cima com rede de pvc, em pequenas quadrículas, para evitar a
entrada de aves de rapina e outros animais selvagens e também para impedir a
fuga de algumas aves, como pombos ou rolas.
Cheguei
a ter na capoeira um elevado número de aves de várias espécies, mas neste
artigo vou falar, mais especificamente, de patos, porque de início apostei com
entusiasmo na criação destas aves. Adquiri uma dúzia de patos de carne
(daqueles patinhos brancos que não fazem criação), quatro fêmeas e um macho de
patos mudos e um casal de patos reais. Não tinha qualquer experiência na
criação destas aves, mas resolvi dedicar-me a essa atividade porque ouvia dizer
que os patos comiam de tudo e faziam muita criação. Esse foi um dos motivos e
um outro foi porque achava os patos bonitos e que seria bastante romântico ver
as aves a nadarem num pequeno lago…
Foi
por isso que deitei mãos à obra, na construção de uma pequena piscina para que
os patos pudessem tomar banho e se sentissem bem, e eu próprio também, quando
tivesse tempo para os apreciar nessa atividade. No entanto, acabei por chegar à
conclusão de que foi um erro construir o pequeno lago e pensar que seria bonito
ver os patos a nadar.
Esse
erro tem a ver apenas com a falta de água corrente no lago, ou pelo menos a
falta de um poço de onde extraísse água à vontade para fazer a limpeza e a
mudança de água do lago. Como já disse no artigo “A minha chácara”, o terreno
não tem nenhum poço e a água é aproveitada da chuva, mas no verão ela não
abunda e, por isso, tinha dificuldade em mudar a água do lago.
E
a verdade é que os patos sujavam a água muito rapidamente e não só a água do
banho, pois até os bebedouros ficavam sujos muito rapidamente e era preciso
estar sempre a limpá-los.
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Patos a nadar no pequeno lago que construí na minha chácara. |
Normalmente,
os patos estão associados à água e, naturalmente para eles, é uma satisfação
puderem nadar ou mesmo chafurdar num qualquer recipiente, mas será muito melhor
se o fizerem em água corrente e abundante, para além de ser visualmente mais
agradável vê-los a nadar em águas limpas do que a chafurdar num pequeno charco.
Foi
a falta de água em abundância que ditou o fracasso da minha criação, porque não
era possível, pelo menos no verão, estar a mudar a água do pequeno lago com
alguma frequência. Mas não foi só por isso que deixei de criar patos, embora
fosse essa a principal razão. As patas chocavam com frequência e facilidade mas
depois do nascimento dos patinhos era necessário ter um compartimento
disponível para os acolher e vigiá-los com frequência (se houvesse tempo para
isso) porque as mães não tinham qualquer cuidado e pisavam ou esmagavam mesmo
os filhotes, chegando a destruir mais de metade da ninhada. Outra coisa que me
causava alguma repugnância era que alguns machos, em especial o pato real, na
tentativa de galar as patas perseguia-as atrozmente e dava-lhes fortes bicadas
no pescoço e na cabeça provocando-lhes feridas que certamente lhes deviam doer
bastante. A sua atitude de machão violento obrigou ao seu abate prematuro.
Creio
que todas estas vicissitudes são naturais e se criar patos fosse uma atividade
fácil, que desse muito lucro, haveria certamente mais pessoas a fazê-lo e a
carne de pato não seria tão cara e seria maior a oferta nos supermercados, não
só de carne de pato (ou pata), mas também de ovos.
Talvez
seja por tudo isto que, de um modo geral, as pequenas explorações caseiras
apostam mais nas galinhas, porque estas aves, para além de serem
tradicionalmente mais dóceis e disciplinadas, também não são tão exigentes quanto
ao seu habitat, mas tudo tem o seu lugar e um delicioso arroz de pato, não se
pode confecionar com galinha…
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Um lago artificial para patos. Depois de escavado foi forrado com plástico,
uma forma de construção económica.
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Sei
que muita gente cria patos sem ter nenhum lago para eles tomarem banho e será
que isso é mesmo necessário, ou os patos apenas precisam de ter água para
beber? Encontrei duas opiniões em dois livros sobre autossuficiência, que não
são totalmente coincidentes e uma delas aconselha mesmo a quem não tiver fontes
na sua terra a desistir de ter patos. Está no guia prático da autossuficiuência,
de John Seymour, e diz o seguinte:
É
absurdo dizer-se que os patos não precisam de água. É indispensável que tenham
sempre água e sem ela não podem ser felizes. É desumano ter animais em
condições que vão contra a própria natureza. Deixe os patos irem para a água,
mas não os mais pequeninos, com dez a quinze dias, ou melhor antes que lhes
tenha aparecido a proteção natural (óleo sobre as penas). No entanto dê-lhes
sempre água para beber.
É
preferível que a água onde os patos nadam tenha corrente e se renove
continuamente; um tanque de água estagnada é menos saudável. Muitos ovos são
postos na água ou sobre as margens e, se o tanque estiver sujo, os ovos que
tiverem a casca porosa podem ser perigosos para comer. Não coma nunca os ovos
que tenha estado em água suja, mesmo que os limpe muito bem por fora. E, se não
tiver fontes na sua terra, aconselho-o a desistir de ter patos. É evidente que pode
construir um tanque artificial em cimento, barro ou com qualquer material
plastificado enterrado no solo, mas nestes casos tem de ter possibilidades de
renovar a água.
(Interrompo
aqui a narrativa de John Seymour para dizer que se tivesse lido isto antes de
arrancar com a criação de patos, provavelmente teria pensado duas vezes antes
de o fazer).
Continuando…
Um
pato bravo tomará conta, e terá mesmo muito prazer em o fazer, de meia dúzia de
patas, mas estas são mães lamentáveis. Se as deixar chocar, tem de as fechar
forçosamente numa incubadora, pois de outro modo podem matar os filhos arrastando-os
por toda a parte, atrás delas. As galinhas são melhores mães do que as patas. O
período de incubação dos ovos de pata é de 28 dias.
Os
patos pequenos precisam de uma alimentação muito cuidada. Desde o primeiro dia
até à décima semana, dê-lhes tanto de cevada ou de outros alimentos quanto eles
o desejarem e, junte-lhes leite. Alimente os patos do mesmo modo que alimenta
as galinhas que não são para engorda. O pato não come tanta erva como o ganso,
no entanto encontrará sozinho grande parte da sua alimentação, se puder ir até
à água ou até ao lodo. É parcialmente carnívoro e come lesmas, serpentes, rãs minhocas
e outros insectos. Não deixe que as patas engordem muito, pois os ovos serão
estéreis. À guisa de pequeno almoço, os patos gostam de uma papa de legumes
cozidos, flocos de aveia, farinha de ervilhaca ou de feijão, farinha de trigo e
um pouco de farinha de cevada. Dê-lhes metade de uma mão-cheia todas as manhãs
e outra metade à noite. Se achar que ficam muito gordos, diminua as rações; se
os achar muito magros, aumente as rações, como é óbvio.
Deve
matar os patos pequenos quando eles tiverem dez semanas; de qualquer modo, não irão
aumentar muito de peso. Evidentemente que também pode comer patos mais idosos,
mas estes serão mais duros e com mais gordura.
O
abrigo para os patos pode ser extremamente simples o que não significa que seja
feito de qualquer modo. Os patos gostam de abrigos secos, sem correntes de ar,
mas bem arejados. Se for um abrigo que possa ser transportado, melhor, pois se
assim não for, o espaço imediatamente à volta torna-se num verdadeiro esterco.
O abrigo também deve ser resistente às raposas e aos ratos.
Devo
dizer que me identifico com o que John Seymour escreveu no seu livro, sobre
patos, mas para além da sua opinião e também do relato das minhas próprias
experiências, deixo aqui também a opinião que transcrevo de outro livro neste
caso do livro Vida – Um guia de autossuficiência, cujos autores não são
totalmente coincidentes com o relato de John Seymour, mas isso também poderá ter
a ver com as diferentes localizações geográficas dos autores: Inglaterra e
Brasil.
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Esta ilustração mostra como se pode instalar uma pequena produção de patos.
O comedouro é bastante original e económico: de um pneu velho
obtêm-se dois comedouros. |
Os
patos são aves resistentes, rústicas, que adoecem muito pouco. A criação é
fácil, e as fêmeas são ótimas chocadeiras e criadeiras. Elas criam bem os
filhotes, defendendo-os de animais em geral. A criação pode ser feita em pequenas
áreas, em sítios ou fazendas, e mesmo no fundo do quintal. Os patos produzem
carne de ótima qualidade, saborosa. Os seus ovos são maiores e mais ricos em
proteínas do que os ovos de galinha e encontram grande aceitação no mercado,
atingindo preços muito bons. São muito procurados por pessoas com anemia.
Se
você pretende criar patos, comece com um macho e quatro fêmeas. Para isso,
basta dispor de uma área de dez metros quadrados, com chão de terra batida. Não
é necessária nenhuma construção para as aves, somente caixas de madeira com palha
de 45 cm
de comprimento por 40 cm
de largura, para os ninhos. Devem ficar em lugar escondido. Se possível,
improvise uma cobertura. Para comedouro, utilize pneus cortados pela metade. E,
se puder, coloque num canto do quintal uma caixa de concreto pequena para o banho
dos patos.
Existem
três variedades de patos: a branca (ave toda branca), a preta (toda preta, com
penas brancas nas asas), e cinza ou azulega (colorido branco e cinza ou azulega).
Existem, ainda, os patos vermelhos (marrons). No início da criação escolha, de
preferência, aves de uma só variedade (cor) caso contrário, a mistura será
muito grande, originando aves de colorido muito variado, indefinido.
Crie
patos com ração de galinha, misturada com um terço de milho (fica bem mais
barato). Além disso pode alimentá-los também, ou somente, com restos de comida,
cascas de comida, cascas de batata, pois eles aceitam de tudo. Com relação à
alimentação e aos cuidados, é bem mais fácil criar patos do que galinhas.
A POSTURA
Em
geral as patas põem de 60 a
100 ovos por ano, dependendo do manejo. Se elas próprias chocam os filhos e os
criam, a postura é menor – 45 a
60 ovos. Mas se elas apenas chocam e os filhotes vão para a criadeira,
reiniciam a postura pouco tempo depois do choco. A postura é maior na primavera
e, nos meses de janeiro a maio, elas praticamente param de botar. Em geral, põem
de 15 a
20 ovos, param e chocam até atingirem a postura total. Após 30 dias de
incubação, nascem os patinhos. O melhor é colocar várias patas, para chocar no
mesmo dia – cerca de 12 a
15 ovos por ave. Depois de nascidos transfira os patinhos para uma ou duas
patas. As outras ficam liberadas para reiniciar a postura. Uma opção ainda
melhor é colocar todos os patinhos em criadeiras aquecidas por lâmpadas elétricas.
Uma caixa de madeira, forrada com uma camada de limalha de madeira e papel,
pode resolver o problema. Mas se o criador dispuser de incubadora e criadeira
(à venda no mercado), pode usá-las sem problemas.
Depois
de nascidos, deixe os patinhos na criadeira por trinta dias. Nos cinco
primeiros dias, dê quirera de milho bem fininha. Depois desse período,
alimente-os com ração para pintinhos. Forneça água sempre limpa, trocada
diariamente. Muito cuidado: improvise bebedouros bem rasinhos, para que os patinhos
não se afoguem.
Quando
os patinhos completarem 40 dias, leve-os para um local aberto, separados das
aves adultas. Troque a alimentação. Dê ração para frangos, misturada com
quirera e farinha de milho em partes iguais. Sirva a ração em cochos de madeira
e a água em calhas de zinco. Quando as aves atingirem dois meses vacine-as
contra Newcastle (existe vacina única para duas doenças). Nesse ponto, separar
as fêmeas para postura e os reprodutores. Os que restarem deixe para consumo ou
comercialização, vivos ou abatidos. Com essa idade, os patos atingem peso de 2,5 a 3 quilos, depois de
limpos.
DOENÇAS
Apesar
de raras, eventualmente pode aparecer alguma doença na criação. A mais comum é
o “descadeiramento”, provocado pela falta de vitaminas na alimentação e
caracterizado pela atrofia das pernas. Para prevenir a doença use uma
alimentação
balanceada
e rica em vitaminas. Às vezes, os patos têm diarreia, acompanhada de hemorragia
intestinal., Alguns criadores do interior costumam usar 100 gramas de borra de
café, misturadas com dez litros de água. Apesar de ser um remédio caseiro, sem
nenhum fundamento científico, costuma dar bons resultados.
Recomendações
para o iniciante na criação de patos: a cada quatro meses, dê às aves
vermífugos à base de piperazina, principalmente se eles forem criados soltos,
em locais onde haja lagos. Eles se alimentam de lodo dos lagos e ficam em
contato permanente com a terra, sujeiras e verminose. Para a criação criada solta,
construa um abrigo, mesmo pequeno e rústico, para os patos se protegerem do sol.
Descarte as fêmeas após dois anos de idade, pois a postura diminui muito daí em
diante. Jamais coloque patos em gaiolas (viveiros) porque eles criam
calosidades na sola dos pés.
Além
disso, no caso de criações grandes, em áreas maiores, faça várias divisões:
para reprodutores, para as aves pequenas até trinta dias e para aves até
noventa dias.
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