Apanha de medronhos

Neste blog encontram-se vários artigos sobre os trabalhos agrícolas que venho realizando. No post anterior falei da apanha da azeitona e de outras tarefas de outono, no entanto não mencionei a apanha de medronhos, que é um trabalho que também se realiza nesta estação do ano. Na zona onde vivo a apanha de medronhos não é um trabalho muito vulgar e, embora existam nas serras muitos medronheiros, eles encontram-se dispersos e, por vezes, em locais de difícil acesso, o que dificulta a sua colheita, sendo por isso um trabalho pouco atrativo, o que faz com que quase ninguém se aventure nesta tarefa.

Mas eu gosto de aventuras e embalado pelo sucesso do meu artigo de há dois anos atrás, “Aguardente de Medronhos”, mesmo não tendo medronheiros, resolvi ser exceção e lançar-me numa nova aventura, indo apanhar os medronhos… dos outros…

Acho que nem mesmo os donos dos medronheiros se importariam com isso, isto se as árvores conhecessem um dono, porque o que me parece é que muitos desses terrenos onde eles estão, foram completamente abandonados há muito tempo. Andamos depois a queixar-nos dos incêndios…

Após vários dias, muitos quilómetros calcorreados, alguns arranhões e umas botas estragadas, lá consegui apanhar cerca de 40 litros de medronhos. Muitos medronheiros estavam carregados de flor, mas não tinham qualquer fruto, outros tinham muito pouco ou estavam inacessíveis. Assim, não é de admirar que a apanha e a própria aguardente de medronhos não tenha qualquer tradição por aqui. Utiliza-se e bebe-se mais a aguardente bagaceira, que sempre tem menos “mão de obra”…

Desta vez resolvi preparar os medronhos para fermentação de modo diferente do que fizera anteriormente. Nessa altura colocara os medronhos numa vasilha e limitara-me a mexê-los de vez em quando. Desse processo resultou que alguns frutos que não estavam ainda maduros não se esmagaram e acabaram por ir assim para o alambique, o que, possivelmente, resultou em menos produto final. Agora, depois de limpar os medronhos de algumas folhas e daquelas pequenas nervuras que sustentam um conjunto de frutos, procedi à sua trituração com uma varinha elétrica. Este trabalho teve de ser feito aos poucos, dentro de um pequeno balde e com várias interrupções para que a varinha não aquecesse demasiado, o que poderia provocar a sua avaria. Adicionei um pouco de água, o que além de ser aconselhável para a fermentação, facilitou a trituração dos medronhos, tendo juntado ao todo nos quarenta litros de medronhos, cinco litros de água, mas daqui para a frente irei adicionar mais um pouco quando for mexer a pasta, pois segundo algumas pesquisas que fiz a água deve ser de uma parte para cinco, o que significa que ainda poderei acrescentar mais alguns litros, no entanto ainda não sei se o farei, tudo vai depender da evolução futura da pasta de medronhos.


Triturando os medronhos.
Os medronhos em fermentação.

Deste modo consegui uma pasta homogénea, já com todos os frutos esmagados, estando em crer que o processo de fermentação vai ser bem sucedido, o que é meio caminho andado para obter uma boa aguardente.

Só daqui a cerca de dois meses é que irei proceder à destilação, estando ainda indeciso sobre a forma como o irei fazer, se novamente num “alambique comunitário”, ou se faça a aquisição de um com capacidade para cerca de 10 a 20 litros, utilizando um fogão a gás para aquecer a panela. Em pesquisas que fiz encontrei um site que vende alambiques com capacidades que vão desde meio litro a 150 litros, estando em crer que um de vinte litros ou mesmo de dez, já dava para desenrascar, podendo depois fazer experiências com destilação de outros frutos. Acresce que a aquisição de um para uso próprio tem também a vantagem de uma maior higiene no processo, pois a destilação do medronho acontece numa altura em que os alambiques comunitários já terminaram a destilação do bagaço e, a menos que se perca muito tempo fazendo uma limpeza profunda e uma destilação prévia com água para limpar as tubagens, é um pouco arriscado fazer lá a aguardente.

Uma terceira opção poderá ser a construção de um alambique de forma artesanal, mas parece-me que isso será um risco ainda maior.

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4 comentários:

  1. boa noite,

    Onde posso fazer apanha do medronho? alguma entidade empregadora ou assim? Como fez?

    Obrigado,
    Vicente

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    1. Boa noite, obrigado pelo comentário.
      Eu limitei-me a apanhar os medronhos em terrenos abandonados, alguns medronheiros estavam envoltos por denso matagal, onde ninguém aproveita aquilo. Conforme escrevi no texto em cima, tive que calcorrear muitos quilómetros para apanhar 40 ou 50 litros de medronhos.

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  2. Bom dia, desde já parabéns pelo seu blog. Sei que agora não é altura de apanha do fruto mas adquiri um alambique e estou muito interessado em tentar fazer uma aguardente de medronho quando chegar a altura, mas tenho algumas duvidas relacionadas com o processo de fermentação.

    O medronho é apanhado maduro e colocado num recipiente e é triturado com 1 parte de água para cada 5 partes de medronho, até aqui tudo bem, a minha dúvida é, de+pois de triturados os medronhos, o recipiente é tapado ou é deixado aberto? vejo algumas imagens com bidons tapados com uma pequena mangueira para expelir gases. Não entendo

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    1. Deve tapar o recipiente. Se a tampa for completamente hermética deve fazer um pequeno furo ou deixar a tampa de modo a que os gases da fermentação possam sair. Deve ter em conta que com a fermentação a pasta de medronhos sobe, por isso não deve encher muito o recipiente.

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