Construção de um alambique

Este artigo é sobre o mais recente projeto caseiro realizado pelo autor deste blog: a construção de um alambique...

Resultado final da construção com o alambique já em
funcionamento. Foi efetuada uma pequena alteração no
sistema de resfriamento do condensador.
Depois de uma “histórica” destilação de medronhos feita há cerca de três dezenas de anos atrás num alambique comunitário de que falei em “Aguardente de Medronhos”, resolvi, nos últimos meses de 2013, iniciar mais uma aventura do mesmo género fazendo uma apanha de medronhos, sobre a qual também já dissertei neste espaço. Desta vez resolvi inovar, ou melhor, complicar ainda mais o processo, lançando-me na construção caseira de um alambique para destilar os medronhos e para futuras destilações de outros frutos.

Tal como em projetos anteriores recorri à imaginação e à originalidade tentando ser prático e gastar o menos o dinheiro possível. Só que desta vez, talvez por falta de ponderação e, devo dizer também, por falta de conhecimentos sobre o processos de destilação e construção de alambiques, as coisas não correram muito bem e tive trabalho a dobrar, uma vez que tive de mudar o projeto e recorrer à compra de um pequeno alambique de cobre.

Dizer que as coisas não correram bem talvez não seja o termo mais indicado para referir o que aconteceu, porque na verdade o alambique que construi inicialmente até funcionou bem como destilador, o que comprovei numa destilação de água experimental e o que me levou a desistir foi o facto de o material utilizado no capacete e na serpentina serem em PVC, o que poderia originar mau sabor na aguardente ou até, o que seria muito pior, torná-la nociva para a saúde, para além dos riscos já inerentes ao consumo de álcool que são conhecidos de todos.

Alambique em PVC.
O material em PVC, como poderia pensar-se a priori, não se derreteu e o capacete que era a parte onde ele era sujeito a temperaturas mais altas, aguentou-se muito bem, não sendo por aí que o projeto fracassou, aliás, o fracasso foi, neste caso, assumido apenas como uma medida preventiva contra possíveis danos causados por uma também possível, mas não confirmada nocividade do pvc, porque de resto, e qualidade da bebida à parte, a destilação funcionou. (A propósito da nocividade, ou não, do PVC, seria interessante que através dos comentários fosse feito um debate sobre o tema.)

De qualquer modo a alteração do projeto não inviabilizou todo o trabalho já efetuado, pois a fornalha construída para aquecimento do alambique foi aproveitada, sendo obrigado a fazer apenas uma pequena modificação para adaptar o queimador para o pequeno pote de cobre que adquiri.

Os alambiques são tradicionalmente construídos em cobre, sendo que uma das razões apontadas para esse facto é que esse material melhora ou pelos menos não prejudica a qualidade da bebida. Mas o cobre é um metal caro e assim por limitação de custos o sistema que comprei tem apenas cinco litros de capacidade, o que é muito pouco, mas para quem como eu pretende apenas produzir algumas bebidas para consumir em ocasiões especiais, ou simplesmente para ter em casa, serve para desenrascar.

A fornalha durante a fase de construção.
O projeto inicial era composto de uma panela de alumínio com 12 litros de capacidade e estava embutida na fornalha, de modo a que quando esta estivesse bem quente o sistema funcionasse com pouca lenha. Depois tinha o capacete, cujo fundo era o testo da panela e em cujo friso de encaixe tinha colado uma borracha para vedação, tal como tem nas panelas de pressão. O testo tinha sido furado e sobre a abertura colara um tubo de PVC com 20 cm de diâmetro, no qual colocara uma tampa que fechava hermeticamente o tubo. Perto do cimo colocara uma peça em latão das que se usam nas tubagens de água, onde ligava um tubo de PVC de uma polegada que ia encaixar na tubagem da caixa de água que funcionava como condensador. O sistema parecia perfeito, mas comecei a pensar que se não existiam alambiques construídos desse modo, se eles eram todos, ou pelos menos a grande maioria deles feitos em cobre, por alguma coisa deveria ser e que o melhor era, pelo menos para já, desistir da ideia e retirar a panela de alumínio.

O pequeno pote de cobre encaixa no orifício no centro do pequeno forno, onde estivera embutida a panela de alumínio, sendo aquecido pelas chamas e pelo calor no interior da fornalha, saindo os fumos por uma chaminé de metal.

Na construção desta fornalha utilizei tijolos de barro maciços que encontrei em aterros e alguns outros materiais que tenho em reserva provenientes das minhas obras, que estavam sem utilização, sendo por isso uma construção de baixo custo, à semelhança do que acontece com quase todos os meus pequenos “projetos caseiros”, em que procuro fazer sempre o aproveitamento de materiais em desuso.

Este pequeno alambique poderia perfeitamente ser aquecido por um bico de fogão a gás, mas isso iria encarecer um produto que não é essencial e desvirtuaria a velha tradição da destilação de aguardente nos alambiques com queimador a lenha. Por isso mantive a parte do projeto respeitante à fornalha.


Brevemente publicarei um post incluindo um vídeo mostrando o funcionamento do alambique e escreverei sobre o processo do fabrico da aguardente.  

Artigos relacionados 

AGUARDENTE DE MAÇÃS



Nas zonas rurais, antes do aparecimento da Internet, para fazer pesquisas sobre qualquer assunto de que tínhamos pouco ou nenhum conhecimento, era costume irmos “pesquisar” ao café ou à taberna da aldeia. Nesses locais desenvolviam-se autênticos “fóruns” onde se discutia sobre os mais diversos assuntos. A agricultura era um dos temas mais falados... Continue a ler 

As uvas, ou melhor o bagaço das uvas, que são os resíduos das uvas que ficam depois do esmagamento e retirada do sumo fermentado que se transforma em vinho, é o produto mais utilizado para, através do processo de destilação, obter a bebida alcoólica conhecida como aguardente ou cachaça. No entanto a aguardente pode ser extraída de muitos outros frutos, praticamente de quase todos... Continue a ler

Sem comentários:

Enviar um comentário