AS PLANTAÇÕES DE TABACO

Plantação de tabaco
“Cada folha, uma nota”. Esta frase fazia parte, há alguns anos atrás, de um cartaz publicitário que apelava à plantação de tabaco em Portugal. Lembro-me de o ver afixado na cooperativa agrícola da minha terra e dele constavam também uma planta ou uma folha de tabaco e uma nota de vinte escudos. Teria sido na década de 80 ou talvez já nos anos 90, numa altura em que um pouco por todo o país se plantava tabaco. Era principalmente nos concelhos de Castelo Branco, Fundão, Idanha-a-Nova e Ponte de Sôr que existiam os grandes campos onde se cultivava o tabaco “Virgínia” que era curado artificialmente em estufas aquecidas. Por outro lado, o tabaco tipo "Burley" era curado ao ar livre e plantado em Pombal, S. Miguel (Açores), Leiria e Trás-os-Montes, em campos de menor dimensão.

IV CERIMÓNIA DE ENTREGA DE DIPLOMAS DO CNO DA LOUSÃ

Decorreu ontem, no Cine-teatro da Lousã, a IV Cerimónia de Entrega de Diplomas aos adultos que durante o ano de 2010 obtiveram a certificação equivalente aos 9º e 12º anos de escolaridade no C.N.O da Lousã.

O Sr. Daniel Amaral, no uso da palavra.

OS CARROS DE BOIS

Este carro ainda carrega a charrua e a grade utilizadas na lavoura.
Pelas ruas circulavam carros de bois carregados com diversos produtos agrícolas. As suas rodas de ferro e madeira produziam um ruído característico sobre o chão de terra batida, chiando e tinindo a lingueta do seu trinco. O carreiro ia à frente com o aguilhão e a sua voz treinada e obedecida num caminhar lento e calmoso. Carro, animais e homem formavam um conjunto simultaneamente agreste e rude, mas também belo e harmonioso que há várias décadas atrás fazia parte integrante do dia-a-dia de muitas aldeias.

CONSTRUIR A PRÓPRIA CASA - Os alicerces

Neste artigo vou continuar a falar sobre “construir a própria casa”. Depois de já ter publicado o 1º artigo em que falei sobre o trabalho burocrático, tarefas que envolvem muita papelada, mas que são necessárias antes de se iniciar a construção, vou hoje começar a falar sobre o trabalho mais prático e também o mais interessante que é fazer erguer a casa com o próprio esforço.

Já o disse no artigo anterior, mas volto aqui a repetir, que não pretendo com estes escritos ensinar ninguém a fazer uma casa, mas sim dar a conhecer apenas os métodos que utilizei na construção da minha, que poderão ter alguma utilidade ou não pois, de resto, trata-se apenas de uma pequena vivenda rés-do-chão com 100 m2, sem grandes complicações arquitectónicas e que, devido à sua simplicidade, foi possível ter conseguido, praticamente sozinho, realizar essa construção. Naquele tempo não havia tantos entraves burocráticos como existem hoje e muita gente fazia as suas casas por administração directa, contribuindo com o seu trabalho para a execução da obra, tornando-a mais barata, mas eu não tinha dinheiro para contratar ninguém, apesar de ter recorrido a um pequeno empréstimo.

Não possuo qualquer foto do andamento dos trabalhos da construção porque, naquela altura, não tinha tempo para me preocupar com isso, nem tinha máquina fotográfica e estava a anos-luz de imaginar que um dia iria ter um blogue na Internet e nem isso existia ainda, julgo eu. De qualquer modo vou tentar, através das palavras e de fotos de outras obras, dar uma imagem aproximada dos trabalhos que realizei.

Como o terreno que adquiri para a construção estava situado num local que era servido por uma estrada muito estreita, praticamente não passava de um carreiro, todos os materiais foram transportados por um tractor agrícola, tendo alguns alguns que ser mesmo descarregados a cerca de 100 metros da obra e depois transportados para o local por meio de um carro de mão. Por esse motivo, optei por armazenar primeiro no terreno uma quantidade razoável de areia e brita e também a pedra para as fundações e só depois iniciar os trabalhos de construção para não ter de os interromper, devido aos difíceis acessos à obra e também a ter que fazer a carga e descarga do tractor manualmente, utilizando uma pá no caso da areia e brita.

Nesta altura já tinha o projecto da pequena vivenda em meu poder, podendo dar início aos trabalhos com a marcação da obra no terreno. Devo dizer que a planta era bastante simples mas mesmo assim foi uma ousadia meter mãos à obra nestas condições, pois nessa altura a minha prática de trabalho em construção de edifícios, resumia-se a pouco mais de um ano de prática como servente, adquirida dois ou três anos antes, pois naquele momento a minha profissão já não era nessa área.

Esses meses de aprendizagem foram fundamentais, pois nesse período de tempo tinha ajudado a construir uma casa desde o seu início, ficando assim com alguns conhecimentos que permitiram lançar-me nessa aventura.

As cangalhas para a marcação da obra
Fiz a marcação da obra utilizando estacas onde depois preguei algumas tábuas, horizontalmente, que se destinavam à colocação de pregos onde seriam atadas os fios. Nos cantos essas tábuas formavam um ângulo recto e serviam para esticar as linhas e marcar as fundações alinhando os pilares e as paredes. Esse conjunto de estacas e madeira utilizada na marcação era denominada de “cangalhas” e, naquele caso, apenas as retirei depois de já ter a cinta ou lintel onde iriam assentar as paredes, pronta para receber os tijolos. Devo realçar que o conjunto tem de estar em perfeita esquadria, pois se assim não for, os problemas começarão a surgir logo quando se aplicar o piso de tecto e serão maiores na aplicação do telhado e depois continuarão no interior da habitação.

Um factor a ter também em conta na marcação da obra é a sua orientação geográfica, factor que já deverá ter sido considerado na elaboração da planta de acordo com o terreno onde vai ser construída, pois dever-se-á ter em conta que a parte do edifício virada a sul ficará mais exposta ao sol e que também, na maior parte das vezes, os grandes ventos sopram de sul para norte, sendo por isso esse lado mais fustigado pelo vento e pela chuva.

Depois de fazer o alinhamento das fundações, dei inicio ao duro trabalho de as abrir à pá e picareta, trabalho esse a que estava bastante habituado, devido à profissão de cabouqueiro que tinha exercido há pouco tempo atrás. A profundidade e a largura das fundações de uma casa obedecem a alguns factores como: natureza do terreno e as dimensões do edifício. No meu caso era apenas um vivenda térrea e, no terreno, depois de escavados cerca meio metro de terra escura, começou a aparecer uma espécie de argila rochosa, terreno bastante duro, que me deu garantias de não ser necessário afundar muito mais, tendo as fundações ficado com cerca 80 cm de profundidade por 50 cm de largura. Faço notar que os alicerces é que vão suportar todo o peso do edifício, como é evidente, pelo que aqui não se pode facilitar e eu não facilitei, tendo até nos cantos da casa e em todos os pilares afundado um pouco mais e feito uma sapata com cerca de 1m2, para maior segurança. Acho que neste caso é melhor pecar por excesso do que por defeito.


Armação de ferro. O ferro é atado com arame queimado,
utilizando, normalmente, uma chave que se faz fácilmente
 com um pedaço de ferro de 6mm, embora na imagem
 esteja a ser utilizado um alicate.
Eu estava entregue a mim próprio; era o servente, o pedreiro e o patrão, (até passavam pessoas no local que gracejavam dizendo que “ao menos assim não ralhava com o servente”) razão porque depois da abertura das fundações estar concluída, tive que me dedicar a fazer a armação de ferro para os pilares. Utilizei ferro de 10 mm, com estribos em ferro de 6mm. Para as sapatas fiz grelhas com ferro de 10 mm, separados por cerca de 20 cm. As tabelas do ferro constavam da planta do ferro, mas na realidade e ao que me lembro não as segui à risca.

Chumbei os pilares nas sapatas fazendo um espécie de pirâmide até atingir o cimo dos alicerces. De notar que os quatro ferros dos pilares foram, no fundo, alargados para o lado acompanhando assim a dita pirâmide de betão. De seguida fui enchendo os alicerces com pedras a que ia juntando algum betão até atingir o nível do solo, altura a partir da qual iria começar o lintel de fundação. No interior abri também uns alicerces, um pouco mais pequenos onde iriam assentar as paredes. Escusado será dizer que o cimo dos alicerces e sobretudo o lintel tinha que estar nivelado para que depois o levantamento das paredes se fizesse sem problemas.

A etapa seguinte foi fazer a armação do ferro para o lintel, em que utilizei ferros de 12 e 10 mm. Este lintel foi feito ligando toda a obra, paredes interiores incluídas, tendo ficado com cerca de 20 cm de altura por 30 de largura, (15 cm nas paredes interiores). Os 30 cm de largura correspondiam à espessura das paredes, que foram construídas duplamente com tijolos de 11 cm, ficando com uma caixa-de-ar de 8 cm.

Todos estes trabalhos iam sendo feitos aos poucos, pois apenas me podia dedicar a eles em horas e dias de folga, uma vez que era realizado sem prejuízo da minha actividade profissional, que naquela altura era exercida numa cerâmica de artigos de barro para construção (ver os Trabalhadores do Barro).

Não tinha madeira suficiente para fazer a cofragem do lintel de fundação na sua totalidade, de maneira que fui fazendo o seu enchimento também aos poucos, preocupando-me sempre em que as partes onde o trabalho era interrompido, houvesse depois uma boa ligação do betão. As “cangalhas” continuavam a funcionar de modo a proporcionar um perfeito alinhamento e esquadria do lintel. De notar que não tinha betoneira e que o betão era por isso amassado manualmente com uma pá e uma enxada, o que agravava as dificuldades do trabalho.

Aspecto final da fundações. Pela cor do lintel vê-se que
este foi impremeabilizado, o que é um procedimento
muito aconselhável.
O lintel finalmente ficou pronto e chegava assim ao fim mais esta etapa da obra. A próxima foi proceder ao levantamento das paredes, pois ao contrário do que agora se faz na maioria das construções, aqui ergui primeiro as paredes e as colunas só foram cheias depois, ficando assim as paredes fundidas nos pilares, pois uma parte da argamassa penetrou nos furos dos tijolos o que, quanto a mim, deu uma maior resistência a todo o conjunto, do que se tivesse feito as paredes apenas de encosto aos pilares, para além de ser mais fácil efectuar, desta maneira, o trabalho. Mas sobre as paredes irei falar num próximo artigo.

Artigos relacionados

Este é o quarto artigo que escrevo sobre “construir a própria casa”. Como também já referi nos artigos anteriores, estes escritos não são para ensinar ninguém a fazer uma casa, mas apenas para ajudar ou, porque não, até para incentivar aqueles leitores que, tal como eu, fazem do dia-a-dia uma luta diária pela sobrevivência e, por isso, todos os cêntimos contam... Ler mais


Rebocar paredes e tectos manualmente é um trabalho que exige alguma perícia, não só para que possa atingir o grau de perfeição adequado ao fim a que se destina, mas também para que se obtenha rendimento na sua execução.
Os meus primeiros trabalhos de reboco foram executados aquando da construção da minha casa e, nessa altura, quando comecei, era mais a massa que caía para o chão do que a que ficava colada às paredes... Ler mais

AS PONTES SUSPENSAS DE SEGADE

As pontes sobre os rios sempre foram importantes e imprescindíveis vias de comunicação, fazendo a ligação rodoviária ou pedonal entre povos de diferentes países, cidades ou vilas. Estas de que vou falar ligam simplesmente o povo de uma mesma aldeia separado pelas águas do Rio Ceira.

O INÍCIO DOS TRABALHOS AGRICOLAS

A primavera aproxima-se a passos largos e com ela vai chegar também a azáfama aos campos, com a preparação das terras para as várias sementeiras. As acácias já estão em flor e, apesar de estarmos ainda em pleno inverno, aquelas manchas de amarelo vivo são o anúncio da chegada dos dias grandes, com muita luz.

O VALE DO ESPINHAL

Nas zonas mais interiores do distrito de Coimbra não existem muitos campos agrícolas de grande dimensão, pelo menos que eu conheça, uma vez que a região é predominantemente florestal, onde abundam pinheiros e, sobretudo, eucaliptos. Há muito tempo que se investe na plantação de eucaliptos, devido à procura desta madeira pelas empresas de celulose e também porque o eucalipto se desenvolve muito rapidamente. Esta árvore em cerca de dez anos fica pronta para o corte para celulose, (o que vulgarmente se designa por faxina) e depois reproduz-se novamente, podendo desenvolver vários rebentos de que irão surgir outros tantos troncos.

Dadas as vantagens económicas que representa não é difícil adivinhar a razão da escolha dos proprietários dos terrenos por esta árvore, em detrimento de outras, inclusivamente em terrenos onde outrora se cultivavam produtos agrícolas, embora a plantação de eucaliptos obedeça a uma legislação restritiva no que se refere ás áreas geográficas de plantio.