BATALHA DO BUÇACO FOI HÁ 204 ANOS

Militares depositam uma coroa de flores junto ao Monumento.

Hoje, 27 de Setembro de 2014, passam 204 anos sobre a Batalha que ocorreu na serra do Buçaco e em que se defrontaram as forças anglo-lusas sob o comando do Tenente-general Arthur Wellesley, visconde Wellington e as tropas francesas lideradas pelo Marechal André Massena.

Todos os anos, no dia 27 de Setembro, o exército português promove uma cerimónia militar e religiosa no local onde foi erigido um monumento em homenagem às tropas anglo-lusas. Nas comemorações de hoje participaram forças do Regimento de Infantaria 14 (Viseu) da Brigada de Intervenção, Fanfarra do Exército, Guarda Nacional Republicana e Associação Napoleónica Portuguesa. As cerimónias iniciaram-se pelas 09h00 com o hastear das Bandeiras Nacionais de Portugal, Reino Unido e França e, após a receção dos convidados às 09h30, seguiu-se um Cortejo Histórico Religioso, Missa Campal e Cerimónia de Homenagem aos Mortos.

Todos os anos se realizam aqui cerimónias religiosas e militares, que
incluem uma missa campal.

Como foi dito por um orador durante as cerimónias, o exército não se cansa de ir ali todos os anos realizar aquelas cerimónias, não só para homenagear todos os homens e mulheres que participaram naquele acontecimento, que marcou a região e o país, mas também para manter viva a sua memória e inclusivamente prestar um serviço didático à população, sobretudo aos mais jovens.

A Guerra Peninsular foi uma desgraça para o país. Naquela época Portugal tinha apenas 3 milhões e meio de habitantes e só nesta guerra perderam a vida 200 mil pessoas. As invasões francesas foram causadas por motivos políticos, mas, como acontece sempre, é o povo quem mais sofre.

Miranda do Corvo também sofreu muito com esta guerra. O concelho foi duramente afetado pelas tropas francesas, na primavera de 1811, quando estas batiam em retirada e se encontravam muito desorganizadas. As pilhagens eram uma constante e há mesmo quem afirme que Massena terá mandado incendiar a vila. Não se conhece o número exato de vítimas, mas, no concelho de Miranda do Corvo, em 1931, a partir do registo paroquial de óbitos, Belisário Pimenta contabilizou 728 mortos entre Março e Julho de 1811, sendo que o número médio dos 4 anos anteriores fora apenas de 1724.



Vídeo sobre a Batalha do Buçaco, realizado durante as comemorações dos 200 anos do acontecimento.

AS PONTES DE MADEIRA SOBRE O RIO MONDEGO

No século passado existiram em Coimbra algumas pontes de madeira que serviam para a travessia de peões entre as duas margens do rio Mondego. Apesar de serem construções rudimentares tinham a sua importância, numa época em que ainda se faziam deslocações a pé para o trabalho, para ir a feiras, ou por outros motivos. Eram pontes que permitiam encurtar distâncias, numa altura em que o automóvel ainda não estava ao alcance de muitos.

As pontes de madeira que atravessavam o rio Mondego, na zona de Coimbra, fazem parte do imaginário da cidade e de um rio que no verão deixava parte do areal a descoberto. Esse carácter estival do rio, que contrastava com fúrias súbitas no inverno, originou a alcunha de “Basófias” e inspirou a criação de poemas, como esta quadra de António Nobre.

AS ANTIGAS PONTES DE MADEIRA NA QUINTA DA PAIVA


As duas antigas pontes de madeira na Quinta da Paiva. Ao fundo avista-se
 o moinho de água que nesta altura se encontrava em ruínas.

Há uma dezena de anos atrás as duas margens do rio Dueça, na Quinta da Paiva em Miranda do Corvo, eram ligadas por duas pontes de madeira, separadas apenas por dois ou três metros. A ponte mais larga era para uso exclusivo dos proprietários da Quinta que, apesar de existir uma serventia pública que atravessava os seus terrenos, não permitiam que os habitantes das aldeias vizinhas se servissem da sua ponte. Estas pessoas tinham necessidade de atravessar o rio para se dirigirem aos pinhais em busca de lenha ou outros produtos florestais, que transportavam aos ombros ou às costas e, para isso, construíram a sua própria travessia que era denominada a “ponte do povo”.


Na foto não se vê a ponte mais larga na sua totalidade, mas esta, do lado da margem direita do rio, tinha um portão que foi ali colocado quando foi feita uma substituição do madeiramento da estrutura, em finais dos anos 60, com a finalidade de impedir a sua utilização pelas gentes locais. Quando foi colocado o portão a ponte do povo já existia, mas estava em muito mau estado pelo que, ao que me lembro, foi efectuada uma subscrição nas aldeias de Montoiro e Paiviegas, com vista à sua recuperação. Esta ponte era pedonal e o estrado de madeira, com pouco mais de um metro de largura assentava em duas vigas de ferro em forma de
I, que apenas se encontravam apoiadas nos pilares das duas margens do rio e, como não eram bastante fortes, a ponte balançava perigosamente. A foto data de meados da década de 70 e, nesta altura, o portão da ponte mais larga já não existia, pois entretanto tinha-se estragado e, como não foi reposto, o povo passou a circular nela livremente.

Actualmente, com a transformação da Quinta da Paiva num espaço público de turismo e lazer, o rio passou a ser transposto por imensa gente, tendo sido construídas duas novas pontes. Uma foi construída em substituição das duas pontes de madeira, no mesmo local do rio e a outra cerca de 500 metros a montante.

Nesta altura já o estrado de madeira da ponte do povo tinha desaparecido e dela só restavam as duas vigas de ferro I, mas estas foram incorporadas no betão das novas pontes, terminando assim uma história de alguma possessividade por parte dos antigos proprietários da Quinta, que, pelo menos durante algum tempo, não permitiram a utilização da sua ponte e apenas autorizavam a passagem pela serventia pública que atravessava os seus terrenos, por pessoas a pé.

A ponte que foi construída no local onde estavam as pontes de madeira. A
quinta está completamente transfigurada; o moinho de água ainda lá se
encontra, agora recuperado, mas oculto pela folhagem dos choupos.





GONDRAMAZ, ALDEIA DE XISTO

O cimo da aldeia.
Num artigo anterior deste blog, com o título “Aldeias abandonadas na serra da Lousã”, escrevi sobre o Cadaval, uma pequena aldeia situada na vertente oeste de uma das muitas montanhas da serra. Para essa aldeia, cujas casas se encontram na sua maioria completamente arruinadas, existem projetos de recuperação que se forem concretizados poderão fazer renascer a aldeia, trazendo vida aquela zona da serra, tal como acontece não muito longe dali, a apenas pouco mais de um quilómetro de distância, na aldeia do Gondramaz, povoação que sendo vizinha do Cadaval e pertencendo ao mesmo concelho, a configuração do relevo montanhoso do local faz com que se encontrem bastante afastadas fisicamente, pois o Gondramaz situa-se numa encosta voltada para o lado oposto e de onde se avista uma linha de cumeada de outra montanha onde se alinham várias torres eólicas, que fazem parte do primeiro parque que foi instalado na serra: o parque eólico de Vila Nova.

ALDEIAS ABANDONADAS NA SERRA DA LOUSÃ

Cadaval Cimeiro.
Na vertente oeste de uma das muitas montanhas da serra da Lousã, dentro do perímetro geográfico do concelho de Miranda do Corvo, há uma aldeia abandonada, ou melhor duas, uma vez que a cerca de um quilómetro de distância da primeira que se avista, se encontra uma outra aldeia, bem mais pequena. Estas duas antigas povoações têm o mesmo nome: Cadaval, atribuindo-se lhes para as distinguir os “apelidos” de Cimeiro e Fundeiro, uma vez que se situam na encosta a cotas de altitude diferentes, o que não é caso raro e também acontece com muitas outras aldeias situadas em zonas serranas. 

AS FÁBRICAS DE TELHA DE MIRANDA E LOUSÃ

Depois do artigo que escrevemos sobre os antigos fornos da telha do Vale Feijão, voltamos ao assunto, vindo falar agora das cerâmicas de Miranda e também da Lousã que durante algum tempo fabricaram telhas do tipo marselha. Todas elas já encerraram as portas há muitos anos, mas ainda se encontram em alguns telhados peças por elas fabricadas.



Telhas fabricadas em Miranda.




Telhas das Cerâmicas do Arneiro.

Curiosamente encontrámos no telhado de um barracão, com apenas cerca de 20 m2, telhas produzidas por quatro dessas antigas cerâmicas; duas de Miranda e outras duas do concelho da Lousã. Dessas duas fábricas de Miranda, uma era a Cerâmica de Mário Rodrigues, situava-se perto do Carapinhal e ainda se mantêm de pé as suas instalações, embora tenha deixado de funcionar há mais de três décadas. A outra era a Cerâmica Batista e ficava situada perto do local onde foi erguido o Pavilhão Gimnodesportivo Municipal. Dessa já nada resta depois das enormes alterações que aquela zona tem sofrido. Depois da serração de José Costa dos Santos e da fábrica de rolhas, também as velhas instalações desta pequena cerâmica foram engolidas pelo progresso (?) naquela área e para testemunhar a sua existência restam algumas telhas dispersas pelos telhados da região.


Ruínas da antiga cerâmica de J. Galvão.
Também muito perto de Miranda, mas já no concelho da Lousã existiram duas cerâmicas que produziram telhas. Situavam-se no Arneiro e de uma delas, a Cerâmica Lousanense de J. Galvão, ainda se encontram, junto à Estrada Nacional 342, as ruínas de alguns edifícios e também é visível a sua chaminé que ainda se ergue no meio das acácias, mas em estado crítico, estando a desmoronar-se aos poucos. A outra era a Empresa Cerâmica do Arneiro e sobre esta o jornal “Alma Nova” na sua edição de 15 de Fevereiro de 1924, noticiava que: “Foram anteontem iniciadas as obras de construção da fábrica de cerâmica da empresa do Arneiro, Ldª, de que são sócios os nossos amigos srs. José Maria Rodrigues, Manuel Coelho Erse, César Miranda Júnior, Eugénio de Matos Pedroso e João Ferreira.”Também, desta fábrica, encontramos no tal telhado uma telha da sua produção.


Da história da indústria da argila na região ainda há muito a dizer pelo que voltaremos ao tema.




OS FORNOS DE TELHA DO VALE FEIJÃO

Telhas serranas produzidas no Vale Feijão
Miranda do Corvo tem uma grande tradição na arte de trabalhar o barro. A origem da olaria é muito remota, porém sabe-se que ela teve um grande incremento nos séculos XVI e XVII e todos têm conhecimento de que essa arte continua a fazer parte do quotidiano mirandense, focada principalmente na aldeia do Carapinhal.

No concelho para além da olaria, existem, ou melhor dizendo, existiram também várias fábricas ligadas à industria do barro para confeção de púcaros para a resina dos pinheiros, que fecharam há muito tempo, talvez quando começaram a aparecer as púcaras feitas de plástico. De desaparecimento mais recente foram as fábricas de produção de tijolo e tijoleira para a construção civil. Estas eram várias e quase todas elas encerraram possivelmente devido ao facto de se terem tornado obsoletas, no entanto, uma delas encerrou devido à crise que se instalou na construção civil de há uns anos a esta parte, pois tratava-se de uma fábrica de construção recente, que utilizava processos modernos de fabrico.

Tudo isto é de conhecimento mais ou menos generalizado, pois a maioria dessas instalações fabris, pelo menos as que existiram nas proximidades da vila ficavam situadas junto a estradas mais ou menos movimentadas e ainda se avistam as suas grandes chaminés e até algumas ruínas.

No entanto, e isso possivelmente muitos mirandenses mais novos não saberão, é que muito perto do centro da vila, até meados do século XX, se produziu a popular telha serrana com que ainda hoje muitos barracões e até casas de habitação se encontram cobertas. Esse centro de produção situava-se no Vale Feijão, num local com acessos rudimentares e que hoje está profusamente infestado por acácias. Ainda se podem ver os restos de alguns fornos onde essa telha era cozida, mas apenas um está mais ou menos de pé, se bem que em avançada ruína.

Parte frontal de um dos fornos do Vale Feijão

O interior do forno. Tem cerca de 6 m2 de área e foi invadido por acácias
Algumas dessas telhas eram bastante toscas, no entanto têm aguentado dezenas e dezenas de anos de intempéries, com mais resistência do que algumas de fabrico recente que têm dificuldade em resistir ao gelo. As telhas eram moldadas uma a uma através de duas peças de madeira que tinham o formato das telhas e por isso se imagina a necessidade de um elevado número de trabalhadores para fabricar esse produto em grandes quantidades.

Hoje, nada mais resta ali a não ser mesmo os restos semi-desaparecidos desses fornos e o murmúrio lúgubre do vento, agitando as acácias, como que a assobiar a música do requiem pelo local.





A ORIGEM DO NOME DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Brasão de Armas de Miranda do Corvo
O brasão de armas do concelho de Miranda do Corvo,
baseia-se na lenda da donzela cativa na torre do castelo.
As estrelas de oito pontas significam vitórias contra os
mouros, causa essencial da fundação do castelo.
Uma donzela apaixonada por um cavaleiro doutra raça e religião, ao ver de dentro do castelo, numa encosta próxima, o seu amado em êxtase perante a sua beleza, assomou a uma fresta ou janelão e gritou-lhe: “mira e anda!”, para que as sentinelas não dessem sinal de inimigo à vista.

Hoje, muitos mirandenses acreditam que pode estar nessas palavras de aviso da donzela para o seu amado a origem do nome “Miranda”. No entanto, em bom rigor filológico, o nome da terra poderá vir do latim mirandus, que significa miradouro ou atalaia, o que, na verdade, corresponde à primitiva função do monte onde foi construído o aglomerado militar, ao redor do qual depois se desenvolveram as construções civis.

O certo é que a lenda romanesca da donzela sobreviveu a quaisquer outros motivos ou sucessos que poderiam impressionar as imaginações e veio a ser oficialmente legalizada, tendo vindo a constituir o motivo central do selo e do escudo de armas.

Mas porque é que o nome da vila é constituído por três palavras e não apenas por Miranda?

Diz a História que a vila no início do século XVI se chamava “Miranda dapar de Coimbra” e também “Miranda dapar de Podentes” e só no 3º quartel desse século se começou a chamar do Corvo, uma povoação próxima e que ao tempo era muito importante por se situar junto à Estrada Real que seguia para as Beiras. No Corvo existiu uma estalagem e estação de muda de cavalos e devia ser de facto uma aldeia importante, talvez mesmo mais do que Miranda, pois o nome “do Corvo”, parece querer indicar alguma dependência ou sujeição à povoação com esse nome. Talvez, naquele tempo, Miranda tivesse sido “obrigada” a fazer a diferenciação entre as duas “Mirandas” mais conhecidas: Miranda do Corvo e Miranda do Douro.

Aliás as semelhanças entre a vila beirã e a cidade transmontana não se esgotam no nome e até continuam nas próprias deduções para a descoberta da sua origem, se excluirmos a hipótese do “mira e anda” e nos debruçarmos apenas na filologia.  

Sobre a origem do nome Miranda escrevia em 1984 o ilustre historiador e escritor espanhol Juan G. Abad Zapatero, muito amigo de Miranda do Douro:

Perante o nome Miranda cabe sempre a dúvida. Miranda é um vocábulo vivíssimo e desde logo antigo, como apelativo, pelo menos na linguagem do ocidente. O seu sentido como Mirador, ou lugar com boas vistas parece claro.

Documentalmente está este nome expresso e disperso por múltiplas ocasiões, desde os séculos XII e XIII e costuma ser utilizado como acepção secundária desde estes séculos até ao século XIX.

Chama-se Miranda ao ponto mais alto dos torreões existentes nos castelos, ponto desde o qual é possível uma ampla observação – Miranda –, mas a base desta utilização será sem dúvida a de Mirador, como a definiu Mistral.

Na península Ibérica Miranda é nome muito antigo e muito vastamente difundido. D. Pascual Madoz, no seu celebérrimo dicionário, não desamortiza o nome, mas cita-o constantemente.

Fontes consultadas:
Belisário Pimenta Escritos Dispersos
http://mirandum.blogs.sapo.pt/351.html


  

APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA PARA REGAS

Com a conclusão da minha cabana de troncos, o sistema de aproveitamento de águas da chuva da minha chácara, conta agora com mais 14 m2 de área de captação, perfazendo um total de 80 m2. Esta área, em invernos de pluviosidade normal, daria para armazenar, à vontade, mais de 100.000 litros de água, o que significa que apenas 1/5 da água que irá cair nesta área de 80 metros será aproveitada, pois os meus reservatórios apenas têm capacidade para armazenar 20.000 litros.


Todos os telhados da chácara têm caleiras que transportam a água
 para os reservatórios.

A TORRE SINEIRA DE MIRANDA DO CORVO


A "nova" torre sineira.

A torre do antigo castelo de Miranda do Corvo foi, recentemente, alvo de obras que lhe alteraram profundamente a aparência visual. Desapareceram as ameias que lhe davam um aspeto medieval, fazendo lembrar um pouco que ali existiu um castelo que fez parte da linha defensiva do Mondego.

A torre agora está mais alta e no cimo tem uma espécie de gaiola, que lhe serve de cobertura e sobre a qual foi colocado um catavento com a figura de um galo e que é encimado por uma cruz. Esse catavento destina-se, como é lógico, a indicar a direção do vento, mas não nos parece que tenha grande utilidade nessa função, devendo ser mais para servir como decoração. A torre, em tempos mais recuados, também já lá tivera uma peça idêntica, que entretanto desaparecera.

A torre, como mostra a fotografia seguinte, é a que está na memória da maioria dos mirandenses, pois o edifício adquiriu esse visual nos anos trinta, quando ali ocorreram obras de restauração. Foi nessa altura que a torre recebeu o relógio e foram implantadas as ameias, peças essas, construídas em tijolo e rebocadas, assim como o resto do corpo da torre, tendo sido tentada a imitação de blocos de pedra através de juntas artificiais desenhadas no reboco.

Belisário Pimenta talvez tivesse razão, mas este visual da
 torre está na memória de várias gerações de mirandenses.

A propósito dessa configuração da torre, Belisário Pimenta escreveu em 1949 que “a edificação quase desapareceu debaixo de uma vestimenta que lembra, sem ofensa, a das torres de papelão pintado para uso das crianças…”.


Este postal, supostamente do início do século XX, mostra a torre como ela
era antes da implantação do relógio e das ameias. Junto à construção com
a cobertura piramidal, podem ver-se ainda restos da muralha do castelo.


A torre, antes das obras da década de trinta era, porém, bastante diferente; não tinha ameias, mas sim uma cobertura de quatro águas fazendo lembrar uma pirâmide. No cimo dessa pirâmide teria também um indicador de direção dos ventos.

Este painel de azulejos da Estatuária Artística de Coimbra -
 Cerâmicas Estaco, empresa de Coimbra, (agora uma fábrica
 em ruínas onde laboraram muitos mirandenses), mostra a torre
 de uma forma um tanto "esquisita". Parece um misto de torre
 antes e após anos trinta, pois tem a cobertura em forma
 de pirâmide de antes da intervenção dos anos 30,
 mas também o relógio e as ameias de depois. 


A PODA DAS AMEIXEIRAS

Creio que não existe um consenso geral sobre a melhor época para fazer a poda das ameixeiras. Independentemente do tipo de poda e da variedade das árvores, que pode obrigar a que esse trabalho deva ser feito em alturas diferentes do ano, não encontrei uma opinião generalizada que indicasse que essa poda, de um modo geral, deva ser feita no final do inverno, embora a prática corrente seja fazer a poda de quase todas as árvores nessa altura.

John Seymour, agricultor e naturalista, no seu livro “Guia Prático Ilustrado da Auto-Suficiência”, diz o seguinte sobre as ameixeiras:

Espécies
Sob a designação de ameixas, podemos distinguir muitas espécies. As ameixas contêm tanto açúcar natural que, ao secarem, não fermentam enquanto não se lhes retirar o caroço.

As ameixeiras não se autofecundam, pelo que é necessário escolher espécies que se fecundem umas às outras, sob pena de não se colher um só fruto. Se for plantada uma só árvore, verifique se os seus vizinhos têm ameixeiras e selecione uma espécie que possa ser fecundada por elas.

Poda
Nunca se poda uma ameixeira com menos de três anos de idade. Além disso, a poda deve iniciar-se no final da primavera, para que não surjam doenças.

PINTAR A BICICLETA - segunda parte


Pintar a bicicleta” é um artigo deste blog com um bom índice de visualizações  e também um dos vídeos do meu canal do Youtube de maior sucesso, até agora. Sendo apenas superado pelo vídeo “Gerador eólico com alternador de automóvel”, é uma surpresa para mim, tendo em vista que, no meu entender, nesse canal se encontram outros pequenos filmes que poderiam despertar o interesse dos internautas, dado a sua componente didática.

CONSTRUÇÃO PASSO A PASSO DE UMA CABANA DE TRONCOS

Para a boa construção de uma casa de troncos, ou mesmo para uma pequena cabana  como é o caso tratado neste artigo, é essencial ter um stock de toros de boa qualidade, ou pelo menos que sejam todos de tamanho aproximado e direitos, sendo de toda a conveniência que o seu diâmetro não seja inferior a 15 cm. Não foi o caso desta construção, pois as árvores utilizadas, na sua maioria, eram muito tortas e os troncos tinham diâmetros que variavam entre os dez e os vinte e cinco centímetros. Isto obrigou a um acréscimo de trabalho no assentamento e preparação dos troncos, porque estes têm obrigatoriamente de ficar com duas faces direitas para que não fiquem com espaços muito grandes entre eles para tapar. Mais tarde, durante o assentamento, cheguei a pensar ter sido um erro optar por aquele tipo de construção sem ter troncos em quantidade e qualidades suficientes. As dificuldades acabaram por ser superadas, mas a cabana teve de ficar mais pequena do que inicialmente previra.


1 - Corte, transporte e descasque dos troncos

As árvores que tinha disponíveis não eram muitas e estavam num terreno de difícil acesso, que estava invadido por silvas. Devido a isso foi muito difícil a sua extração e transporte para o local da construção. Para o transporte foi essencial a minha moto-enxada que tem sido, aliás, um equipamento imprescindível na execução dos meus projetos caseiros.

O baixo custo da construção que incluía, como é lógico, fazer todo o trabalho com as próprias mãos, era um meta imprescindível e por isso não podia adquirir outras árvores ou troncos, mas quem pensar em fazer uma construção idêntica será melhor precaver-se com um stock de troncos grande em quantidade e qualidade.

A maior parte dos troncos que utilizei são de pinho, mas a cabana também tem à mistura eucaliptos, tábuas provenientes de um castanheiro e algumas carvalhas, estas últimas muito pouco indicadas para o trabalho devido à irregularidade dos troncos. Pela experiência adquirida fiquei com a noção de que os troncos de eucalipto são os melhores para este tipo de trabalho, pois descascam-se facilmente sem ficarem com resíduos de casca e são muito fáceis de trabalhar em verde, para além de se encontrarem eucaliptos de troncos bem direitos. Para além disso o eucalipto, ao enxuto, é muito durável e até poderá dispensar qualquer tipo de produto para conservação. O único inconveniente parece-me ser o facto de racharem com alguma facilidade, mas creio que isso pode ser evitado, em parte, se as árvores forem cortadas na altura certa e não estiverem expostas ao sol durante a secagem.

Depois de já ter reunido um número de troncos que julgava suficiente para a construção da cabana, dei início ao seu descasque. Os pinheiros não são muito fáceis de descascar e ficam sempre alguns restos de pele agarrados ao tronco e daí aquelas manchas acastanhadas com que eles ficaram. Na minha opinião é impensável executar um projeto destes sem descascar os toros pois a casca irá servir de alojamento aos parasitas da madeira e impedir a aplicação de um produto conservante o que irá, inevitavelmente, abreviar o seu apodrecimento.



2 - Serragem das tábuas para a porta

A porta da minha cabana de troncos irá, com toda a certeza, durar muito para além das paredes. O que garante isso é o facto de ter sido feita com madeira de castanheiro e de ficar abrigada pelo telhado da pequena varanda. O castanho é das madeiras mais duráveis que existem, o que não se pode dizer do pinho com que foram feitas as paredes.

O meu terreno tinha um castanheiro cujo diâmetro, na base do tronco, ultrapassava os 30 cm. Como não dava castanhas, ou estas eram de muito má qualidade, achei que seria muito mais útil transformado em tábuas. Como precisava da madeira para a porta e também de uma mesa resolvi cortá-lo para o transformar em tábuas. Estavamos no início do mês de Julho e essa não era a melhor altura cortar árvores. Na serração disseram-me que os troncos não podiam ser serrados já porque a madeira iria estalar toda e que teriam de ficar a secar à sombra durante vários meses.

Perante isto, resolvi arriscar e serrar eu próprio o castanheiro, utilizando a motosserra. Nunca tinha feito um trabalho desse tipo e as tábuas do primeiro tronco que serrei ficaram muito irregulares, mas com a prática melhorei e acabei por obter 12 tábuas com 4 cm de espessura. Eram um bocado grossas, mas estava com receio de que elas viessem a rachar e por esse motivo resolvi mergulhá-las em água, dentro de um tanque, porque tinha ouvido dizer que isso seria bom para a madeira e que depois secariam rapidamente. As tábuas estiveram na água durante duas semanas e esta ficou toda negra com a tinta que saiu do castanheiro, tendo depois sido empilhadas para secarem, num local onde o sol não chegava. O certo é que as tábuas não racharam durante a secagem, mas quando as retirei para fazer a porta e a mesa ainda não estavam completamente secas. De qualquer modo, este processo todo foi muito rápido, não chegando a demorar dois meses.

Devido à irregularidade das tábuas tive de utilizar a plaina para que a porta e a mesa ficassem com uma apresentação razoável, mas mesmo assim valeu a pena esta operação de serragem pouco convencional.   



3 - Alicerces e base da cabana

Os alicerces e o murete onde assentam os troncos das paredes da cabana foram a primeira etapa da construção e também a mais fácil de executar. Os alicerces ficaram apenas com cerca de 30 cm de profundidade e creio que isso foi mais do que suficiente. Foram cheios com pedra e betão e depois ergui um pequeno murete com 30 cm de altura e 20 cm de largo, em cima do qual comecei a assentar os troncos. É certo que poderia colocar os troncos logo em cima da fundação, mas isso não seria boa ideia porque estariam em contato direto com a humidade do solo e apodreceriam mais depressa. Mesmo assim é de toda a conveniência colocar troncos mais grossos e de melhor qualidade no fundo, pois estes estarão sempre mais expostos à chuva.

O murete foi construído também com pedra e betão, não tendo utilizado ferro, por uma questão de economia e também porque achei que não seria necessário.

No chão do interior da cabana e também da pequena varanda coloquei cacos de telhas e tijolos e depois uma primeira camada de betão, já nivelada, que iria servir de base para mais tarde fazer o acabamento deste trabalho.



4- Assentamento dos troncos

O assentamento dos troncos foi a etapa mais difícil e demorada de toda a construção. A minha intenção era ir colocando argamassa em cima dos troncos, ficando estes assim com as juntas já fechadas, mas depressa verifiquei que isso não era viável, por diversas razões, entre as quais se contava as inúmeras manobras que tinha de fazer com os troncos até conseguir que eles se ajustassem minimamente, porque como já disse, infelizmente a maioria dos toros eram mesmo bastante tortos.

No entanto consegui assentar os primeiros troncos em cima de uma camada de cimento e o trabalho começou muito bem. Tratei de escolher os paus mais grossos e pesados para o fundo, porque sabia que as dificuldades iriam aumentar na mesma proporção em que subiam as paredes.

A minha intenção era construir uma cabana rústica, de pequenas dimensões, mas de configuração idêntica às que os colonos construíam nas pradarias do Oeste Americano, introduzindo-lhe no entanto algumas inovações como a colocação de isolamento e forro na cobertura. A colocação horizontal dos troncos, entrelaçados nas pontas, que é uma característica deste tipo de construções, é uma garantia de segurança e praticamente não é preciso utilizar pregos, no entanto é muito trabalhoso fazer os encaixes para os troncos e, no caso desta cabana, devido à irregularidade da madeira ainda se tornava mais complicado. Por isso, com o trabalho que tinha a  aparelhar os troncos e fazer os encaixes, demorava quase um dia para assentar quatro toros.

Os troncos na horizontal, com os topos saindo para fora das paredes cerca de 20 cm, obriga a diminuir o espaço interior e por isso é necessário ter em conta esse facto na hora de traçar as árvores, porque, para além dos 20 a 30 cm que ficam de fora, também é preciso contar com a espessura das paredes, ou seja com o diâmetro dos troncos, medida que não vai contar para a área interior.

Na abertura da porta e da janela optei por colocar, a servir de ombreiras, as duas metades de um tronco que serrei ao meio com a motosserra. Isso facilitou o assentamento dos troncos nesses locais, pois estes eram encostados de topo à parte serrada dos meios troncos das ombreiras. Mais tarde, aquando da colocação da porta, fui obrigado a serrar a outra parte do tronco, verificando ter sido um erro não ter colocado os troncos das ombreiras com duas faces serradas. Como é sobejamente conhecido, as portas para funcionarem bem têm de estar aplicadas a aros bem direitos, por isso estas ombreiras, antes de se começar a encostar-lhe os troncos devem ser devidamente aprumadas.

Quanto às padieiras, estas foram formadas por um tronco inteiro que foi serrado nas partes em que assenta nas duas aberturas, tendo a parte superior da porta e da janela ficado ao mesmo nível, como é normal na maioria das habitações. Foi a partir deste tronco que começou a empena, mas reconheço que seria bom assentar mais uma ou duas fiadas de troncos a toda a volta da cabana, mas eu não tinha mais madeira e o trabalho era cada vez mais difícil, pelo que decidi que já ficava bem assim; afinal era apenas uma cabana…

Continuação do artigo


CONSTRUÇÃO PASSO A PASSO DE UMA CABANA DE TRONCOS - (continuação)

 Início do texto


5 - Corte das empenas e colocação das traves

As empenas foram marcadas de modo a que o telhado ficasse com uma boa inclinação. Na altura ainda não sabia bem que tipo de cobertura ia colocar na cabana, mas o desenho que idealizara para o projeto assim o exigia e é sempre bom existir um escoamento eficaz, mesmo tratando-se de um telhado muito pequeno.

Os troncos das empenas foram colocados normalmente, sendo cada vez mais curtos conforme as paredes iam subindo e a ideia era cortar a empenas no final, pensando que assim seria mais fácil e que o corte ficaria mais certo, mas a verdade é que verifiquei que não era bem assim e que o melhor teria sido colocá-los no lugar já devidamente cortados. A dificuldade do corte das empenas era em parte devido à má qualidade da corrente do motossera, não que fosse problema do afiamento da lâmina, mas simplesmente porque ela não prestava, conforme referi no artigo “Falsificações nas motosserras”.

CONSTRUÇÃO PASSO A PASSO DE UMA CABANA DE TRONCOS - Vídeos da construção

Vídeo com fotos da construção da cabana
Filme com imagens em movimento e anotações sobre o trabalho
Este filme "construção total de uma cabana de troncos" é o mais completo possível, tendo em conta as imagens e os vídeos que consegui captar. É um pouco mais longo do que os anteriores, mas pode ser importante a sua visualização para quem pretenda realizar um trabalho semelhante.

A finalidade destes vídeos não é a de ensinar ninguém a construir uma cabana de troncos, mas apenas a de mostrar a forma original como eu construí a minha cabana de troncos. Todo o trabalho, desde  o corte e transporte das árvores até aos últimos retoques, foi feito sem ajuda de ninguém, tendo sido um trabalho muito esforçado, mas também uma grande aventura e uma experiência muito gratificante.  Se algum leitor achar que a visualização destes vídeos e também o texto que se segue, lhe pode ser útil, tanto melhor...

No artigo Construção passo a passo de uma cabana de troncos - descrição dos trabalhos práticos, fiz a descrição textual dos trabalhos, para que o leitor possa entender melhor como foi realizado todo o processo da construção.

Continue a ler....

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COMO CONSTRUIR UMA PEQUENINA CHÁCARA, SUSTENTÁVEL E BARATA
Neste post o autor do blog descreve assim a sua chácara:
A minha pequenina chácara é um local onde dei largas à imaginação e levei a cabo alguns dos meus mais interessantes projetos caseiros. Naquele terreno, que tem uma área de apenas 800 m2, para além das culturas agrícolas, das árvores de fruto ou dos animais de criação que ali mantenho; construí uma pequena casa de pedra, alguns barracões, reservatórios para recolha de água da chuva, capoeiras e uma bonita cabana de troncos, idêntica às que eram, outrora, construídas pelos colonos, nos Estados Unidos da América...   Quero ler o artigo