Há três anos atrás construí um pequeno barco no qual foram aplicados muitos materiais que estavam em desuso. Entre esses materiais contam-se muitas peças de estores ou persianas em pvc, que se encontravam no lixo. Devido a isso e, fantasiando um pouco, como o funcionamento de uma persiana tem alguma analogia com o funcionamento das pestanas, o nome dado ao barco foi "João Persiana", tentando fazer um trocadilho com "João Pestana", uma personagem da mitologia infantil que significa: "o sono a chegar".
Projetos e engenhos caseiros sustentáveis - construção civil - agricultura - histórias de vida.
BOMBA DE CORDA EÓLICA
Cata vento para bombagem de água. Este sistema é composto também por uma bomba de corda a pedal. |
O
certo é que a turbina de eixo vertical funcionou e elevou a água através da
bomba de corda, mas para que tivesse força suficiente tive que lhe acoplar umas
pás de grande dimensão e, mesmo assim, necessitava de ventos fortes para
produzir trabalho que se visse. Não estava satisfeito, tendo chegado à
conclusão que a turbina vertical não tinha velocidade de giro suficiente para
que a bomba de corda elevasse água em condições de vento normais. Verifiquei
também que o projeto, tal como o tinha idealizado inicialmente: uma única bomba
de corda que poderia alternar entre a movimentação através de uma bicicleta ou
do vento, se tornava pouco prático, uma vez que para isso teria de montar uma
roldana na torre que funcionasse independente da roldana da turbina eólica.
Para isso a corda da bomba a pedal tinha que circular em volta da torre eólica,
o que era desnecessário se funcionasse só movida através da bicicleta a pedal.
Engrenagem para fazer girar a corda da bomba. As roldanas servem para desviar a corda para baixo, impedindo que sejam tocadas pela turbina. |
Por
esse motivo resolvi construir uma segunda bomba de corda para ficar ligada
apenas à turbina eólica e com um tubo de elevação mais estreito, para que o
peso da água não fosse tanto e a bomba pudesse funcionar com ventos mais fracos.
Mesmo assim, não fiquei satisfeito com o resultado e, depois de tanto trabalho,
não me quis dar por vencido, embora a tentação de desistir do projeto eólico
fosse grande.
Afinal,
todo o trabalho que tive com a construção da turbina vertical, não deu o
resultado esperado. Foi uma opção errada, até porque tive a solução sempre ali
à mão, só que eu não a tinha conseguido ver ainda; essa solução estava no cata vento
que já estava instalado na torre… Já tinha antes pensado na hipótese de
transformar esse cata vento em motor de uma bomba eólica, mas essa tarefa
sempre me parecera impossível, até porque a torre estava afastada cerca de três
metros do poço e aquele cata vento era apenas para decorar o ambiente.
O orientador colocado em posição lateral para impedir que a turbina seja atingida de frente, pelo vento. |
Depois
de muito matutar consegui desenhar um plano para transmitir a rotação vertical
e móvel da turbina para uma roda horizontal fixa e assim fazer girar a corda da
bomba e elevar água. Recorri a dois aros de roda de bicicleta, um para acoplar
à turbina e o outro para a roda onde funciona a roldana que faz girar a corda.
Nestes aros coloquei, nos furos dos raios, parafusos de 6 mm de diâmetro que foram
depois revestidos com bocados de tubo de borracha, para diminuir o atrito. A
roda aplicada na turbina faz rodar a roda horizontal e gira livremente ao seu
redor, podendo o cata vento procurar a direção do vento sem complicações na
engrenagem. A velocidade desta turbina supera em muito as rotações da turbina
de eixo vertical e até com ventos fracos é possível elevar alguma água.
O orientador é colocado em posição lateral quando não é necessário que a bomba esteja em funcionamento, como por exemplo no inverno ou quando haja previsão de ventos muito fortes que possam danificar o cata vento.
A importância da corda e das válvulas de borracha
A
corda e as borrachas são de importância fundamental no funcionamento da bomba.
Partindo do princípio que as borrachas devem vedar o melhor possível a água
para que esta não se perca pelo tubo abaixo, é necessário ter em conta que o
atrito também deve ser o menor possível, ou mesmo inexistente. Por isso, é
impossível que os pequenos círculos de borracha vedem a água completamente,
sendo necessário um equilíbrio entre esses dois fatores. Tive que fazer várias
experiências até encontrar a solução mais eficaz, pois até os nós que se dão na
corda podem, através de alguma fricção com as paredes internas do tubo, causar
prisão na corda. Este problema não se coloca tanto nas bombas de funcionamento
à manivela ou a pedal, porque pode ser imprimida uma maior velocidade à corda e
mesmo que as borrachas deixem passar alguma água, é possível um bom rendimento.
A corda estendida para colagem das peças. |
Encontrei
a solução mais eficaz fazendo as pequenas válvulas ou pistons de uma peça de
borracha com cerca de 5 mm
de espessura. Recortei os pequenos círculos, com o diâmetro um nadinha superior
ao diâmetro interno do tubo e depois, com a ajuda de uma lixa, fui desgastando
as peças de forma a que ficassem um pouco chanfradas e com a parte maior, isto
é a parte que fica para baixo no interior do tubo, perfeitamente ajustada ao
diâmetro do tubo, de modo a que, sem grande atrito, consigam vedar a água. Isto
é de suprema importância, porque a bomba a funcionar com vento fraco consegue
assim trazer alguma água para cima e, mesmo que pare por alguns segundos ou
pouco minutos, a água consegue manter-se no tubo e assim, quando recomeçar a
girar, o líquido volta a sair pelo tubo de descarga, sem grandes interrupções.
Depois
de ter os pequenos círculos de borracha prontos, bastaria enfiá-los na corda e
dar dois nós, um de cada lado, na corda. Só que esses nós podem ter a tendência
para entortar a corda, inclinar a pequena peça ou mesmo roçar contra as paredes
do tubo e causar atrito, prendendo a corda. Para obstar a que isso acontecesse dispensei
os nós, tendo colocado, antes e após as válvulas, pequenos pedaços de tubo de
plástico que foram colados à corda e que mantêm os círculos de borracha bem
centrados e alinhados. Esta solução para já está ser eficaz, mas se a cola não
for suficiente para manter as peças sem que deslizem no tubo, poderei ainda dar
nós na corda, mas quero tentar que isso não aconteça. É necessário ter também
em atenção que os furos das válvulas devem ser um pouco inferiores ao diâmetro
da corda de modo a que não haja perdas de água por esses orifícios.
Um
outro aspeto a ter em conta para que tudo funcione bem é manter a tensão da
corda sempre no valor correto (nem muito apertada, nem muito lassa). Para que
isso aconteça sem ter que estar a desatar e atar de novo a corda, coloquei em
prática um sistema que julgo não ser muito usual neste tipo de bombas. Trata-se
de uma peça de madeira que se move em torno de um eixo acoplado ao mastro e que
tem uma roldana numa extremidade e um pedaço de corda na outra, através da qual
é possível tensionar a corda com grande facilidade.
Para
melhor compreensão da forma como funcionam estes importantes acessórios da
bomba (válvulas e tensionamento da corda), preparei um pequeno vídeo.
O
meu cata vento é de pequenas dimensões, mas mesmo assim funciona e eleva água a
cerca de cinco metros de altura. É por isso perfeitamente viável a construção
caseira de um engenho destes, desde que se exista equilíbrio entre as dimensões
da turbina e o rendimento que dela se espera, tendo sempre em atenção as
condições de segurança que são absolutamente necessárias, porque o vento tão
depressa sopra de mansinho e sem força suficiente para rodar os nossos cata
ventos como leva tudo à frente, em rajadas furiosas. Por isso, quanto maior for
o cata vento, maior terá que ser a sua resistência e a qualidade da construção.
Vídeo com o catavento a funcionar com vento fraco/moderado.
Para quem gosta de construir paredes direitas, poupando material e sem ter qualquer dificuldade no assentamento dos tijolos, deve fazer um molde igual ou parecido a este. É muito fácil e rápido de fazer e quase não tem custos. Apesar de já ter feito a colocação de milhares ou até, talvez, milhões de tijolos é uma ferramenta que não dispenso nesse trabalho. O vídeo referente a este projeto é já também um sucesso no Youtube, com centenas de milhares de visualizações.
Quero ler o artigo
Artigos relacionados
Quase todos os engenhos caseiros que construímos foram elaborados um pouco ao sabor do acaso, porque não existia qualquer tipo de projeto ou plano escrito. A construção de uma bomba de corda que, em principio, era para ser mista, ou seja para funcionar à mão ou tocada pelo vento, foi apenas o início de uma grande aventura. Nenhum outro projeto do autor sofreu tantas alterações e deu tanto trabalho como este, para não falar de algumas desilusões. No entanto o projeto acabou por ser concluído, mas as bombas tiveram de ficar a funcionar em separado, tendo sido construídas duas bombas... Quero ler o artigo
Quero ler o artigo
O FABRICO DOS ANTIGOS PÚCAROS DE BARRO PARA A RESINA
Máquina de fazer púcaras de barro. Tem em falta a alavanca que acionava o molde superior |
Há falta de trabalho, no país. Esta é a verdade,
indesmentível e cruel, que atormenta os milhares de desempregados que em vão
procuram uma ocupação digna que lhes assegure o sustento.
Mas nem sempre foi assim. Ainda me lembro de quando, há cinco
décadas atrás, havia trabalho para todos, até para as crianças que deveriam
estar na Escola, mas que por necessidade a deixavam e iam trabalhar nas imensas
pequenas indústrias que existiam um pouco por toda a parte. Ganhava-se pouco,
as condições de trabalho eram muito duras, mas quando se perdia um emprego por
qualquer motivo, logo no dia seguinte se conseguia um novo trabalho.
Entre as pequenas indústrias então existentes, as fábricas de
cerâmica de barro vermelho eram aos milhares e não tinham mãos a medir para
produzir não só tijolos e telhas para a construção de habitações, mas também
púcaros para receber a resina dos pinheiros. A indústria da resina também, na
época, empregava muita gente e Portugal chegou a ser o 2º maior exportador de
resina do mundo, até há três décadas atrás, altura em que a concorrência da
China e do Brasil, começou a provocar o abandono da atividade.
Hoje, Portugal é, não o 2º exportador dessa matéria, mas, por
ironia, o 2º maior importador, embora haja alguma tendência para inverter essa
situação, porque, devido há falta de trabalho nas zonas rurais (como em todas as outras), muitos estão
a tentar na extração de resina uma oportunidade de escapar ao desemprego.
Infelizmente, por muita resina que volte a ser extraída dos
pinheiros, as fábricas de púcaros de barro, não vão ressuscitar, porque há
muito que o barro foi substituído pelo plástico, nessa atividade. Primeiro, eram
os púcaros ou tigelas feitos em matéria plástica onde era recolhida a resina, passando
mais tarde essa recolha a ser feita simplesmente em sacas. É capaz de ser mais
prático uma vez que os sacos de plástico não são despejados para aproveitar,
como acontecia com os púcaros, mas no que respeita a postos de trabalho, não
vejo que a industria do plástico dê emprego a tanta gente como dava a cerâmica.
O GERADOR EÓLICO DE WILLIAM KAMKWAMBA
Quem
se interessa pelo aproveitamento do vento para gerar energia, bombear água ou
outros fins e pretende construir a sua própria máquina, certamente que já fez
pesquisas na Internet e se deparou com turbinas eólicas construídas das mais
diversas formas e com os mais variados materiais. Encontram-se turbinas e
geradores feitos com bicicletas velhas, máquinas de lavar, bidões de metal,
tubos de pvc… Na engenharia caseira tudo se aproveita com a finalidade de
construir algo em que se acredita, gastando pouco e dando vida a materiais que
já cumpriram uma missão mas que ainda podem voltar a fazer história.
Encontram-se
máquinas muito bem construídas e com ótimo aspeto, que no entanto podem não ter
tido o sucesso esperado. Há outras, de aspeto tão frágil, que fazem adivinhar a
sua ruína à primeira ventania e, ainda outras, de aparência tão rústica que ninguém acredita que possam resistir e produzir alguma espécie de trabalho,
mas… quem sabe… se não serão estas últimas as mais produtivas. Os antigos
moinhos de vento também eram toscos e no entanto resistiam a ventos fortes e
moíam cereais.
Subscrever:
Mensagens (Atom)