CONSTRUÇÃO DE CASAS EM PAU A PIQUE

A construção de pau a pique, também conhecida como taipa de mão, taipa de sopapo ou taipa de sebe, é uma técnica construtiva antiga que consiste no entrelaçamento de madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais, geralmente de bambu, amarradas entre si por cipós, dando origem a um grande painel perfurado cujos vãos são preenchidos com o uso do barro misturado com água, o que depois de seco dá origem a paredes firmes e resistentes.


Casa de Pau a Pique, típica do interior do nordeste brasileiro.
Casa de Pau a Pique, típica do interior do nordeste brasileiro.
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No final as paredes ficam com um visual bem rústico e cheio de rachaduras, que são características do endurecimento do barro após a secagem da água. Podem permanecer rústicas ou receber acabamento liso e ainda pintura de caiação.

A construção de pau a pique, quando mal executada e/ou mal acabada, pode- se degradar em pouco tempo, apresentar rachaduras e fendas, inclusive se tornando alvo de roedores e insetos, que se instalam nessas aberturas. E por isso o pau a pique é associado ao barbeiro (Trypanosoma cruzi), inseto transmissor da Doença de Chagas, que costuma habitar estas frestas. No entanto, quando construída de forma adequada, com base de pedra afastando-a do solo (50 a 60 cm) e devidamente rebocada e coberta, não há o perigo da instalação do inseto nas paredes e nem mesmo a degradação do pau a pique.

Casa do Caboclo, exemplo de moradia rústica, feita de pau a pique. Bosque dos Jequitibás, Campinas, SP.
Casa do Caboclo, exemplo de moradia rústica, feita de pau a pique. Bosque dos Jequitibás, Campinas, SP.
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Tem havido alguma evolução nesta forma de construção. As madeiras deixaram de ser fixadas no solo, pelo fato de apodrecerem rapidamente e as suas amarrações passaram a ser feitas com outros materiais, como fibra vegetal e arame galvanizado. Mais recentemente, no Chile, têm surgido construções utilizando uma variação desta técnica, que é chamada de quincha metálica ou tecnobarro, onde a madeira da "gaiola" é substituída por malha de ferro, preenchida com barro através de equipamento apropriado.

No Brasil não existe consenso entre os historiadores, sobre a real origem deste sistema construtivo. Entende-se que possa ter resultado da confluência entre técnicas portuguesas, indígenas e africanas.

O uso de paredes feitas de pau a pique e tabique foi muito intenso na época da colonização do Brasil, principalmente no uso de paredes internas de residências da época. Contudo, por ser um estilo de construção de mais baixo custo e muitas vezes com materiais encontrados na própria natureza, é frequentemente associado apenas a residências rurais.


No entanto, esse sistema de vedação foi utilizado nas mais diversas tipologias construtivas, abrangendo não só senzalas e residências, mas edificações de alto padrão como igrejas matrizes. A técnica foi bastante utilizada também em paredes internas em algumas igrejas de Minas Gerais durante o período de mineração no Brasil, alguns exemplos são as igrejas de Nossa Senhora das Mercês e Perdões em Ouro Preto e de Nossa Senhora do Ó em Sabará.

Igreja de Nossa Senhora do Ó - Sabará.
Igreja de Nossa Senhora do Ó - Sabará. Tem paredes internas construídas em pau a pique.
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Foi utilizado no repertório das construções dos séculos XVIII e XIX, período colonial do Brasil, sobretudo nas paredes internas de tais edificações. Das técnicas em arquitetura de terra é a mais utilizada, principalmente por dispensar materiais importados. Note-se que seu uso ocorria na sua maioria, nas zonas rurais. 

Devido à associação desse sistema as condicionantes locais, o pau a pique foi utilizado de formas diferentes ao longo do Brasil. Mesmo tendo-se em vista que foram os bandeirantes paulistas a exportar a técnica para Minas Gerais, já nos fins do século XVII, lá essa técnica era menos utilizada devido à dificuldade na obtenção de material apropriado. Já na Bahia, o sistema foi utilizado desde a existência das primeiras construções.

Para construir uma casa de pau a pique o primeiro passo é construir a base de tijolos, sendo depois, sobre ela, montada a estrutura geralmente de bambu, mas pode ser com outros materiais como varas de eucalipto ou outros, com ripas na vertical e na horizontal, fixadas com pregos sem cabeça ou amarradas entre si.


Esquema da base e da estrutura das paredes de uma casa de pau a pique.


Em seguida é preciso testar a argila escolhida. E para isso são feitas bolinhas de barro que ficam secando ao longo do dia. Se elas apresentarem pouca rachadura é sinal de que o material escolhido é de boa qualidade para a construção da casa.

Algumas regras para a construção de uma casa de pau a pique


1- Construção do alicerce e da base: Utilizam-se pedras, tijolos ou blocos de concreto na fundação que deve subir até 50 cm de altura, formando um murete acima do solo, o que irá evitar a decomposição do barro pela ação da humidade.

2 - Estrutura: utilizam-se bambus ou varas de eucalipto de 2 a 4 cm de diâmetro, com espaçamento de 15 cm entre elas. Inicialmente, uma fleira das peças verticais é fixada na base. Seguindo-se depois, as horizontais. Por fm, repete-se a inserção das varas verticais, paralelamente às da primeira leva, formando uma espécie de sanduíche.

3 - Fixação: para unir as madeiras, usam-se pregos 15 x 18 (preferencialmente sem cabeça e galvanizados) ou amarração com fibras naturais.

4 - Preparação do barro: testam-se amostras locais humedecendo-as com água e formando pequenas bolas, que devem secar naturalmente ao longo de um dia. Se aparecerem poucas rachaduras na massa, bom sinal: isso indica a boa qualidade da matéria-prima. A mistura do barro com a água é feita com os pés; já sua aplicação na trama, com as mãos, de uma só vez.


Aplicação do barro na estrutura


Fontes consultadas:
Wikipédia
Ecoeficientes